A JMC pretende ampliar a produção de ouro na Bahia em até 31% até 2023. Em 2019, a companhia produziu 159,4 mil onças – 4,5 toneladas
Em Jacobina (BA), o garimpo artesanal foi substituído pela produção industrial do minério. Há quase três décadas, os moradores de Canavieiras, Jabuticaba e Itapicuru, na zona rural do município, tiveram seu modo de vida tradicional alterado à medida que cresceu a exploração industrial da mineração do ouro e temem por uma tragédia igual o de Brumadinho, segundo os jornalistas Nádia Conceição e Edvan Lessado, do portal apublica.org.
Jacobina está localizada a 420 km a oeste de Salvador e abriga duas barragens de rejeitos resultante da exploração de ouro da empresa JMC, filial brasileira da canadense Yamana Gold Inc. Na região, a corporação estrangeira explora quatro minas: João Belo, Itapicuru, Serra do Córrego e Canavieiras, que, juntas, empregam ao menos 2 mil funcionários.
Jabuticaba e as demais comunidades perderam seus garimpos de ouro com a chegada da filial da Yamana Gold. A intensificação da produção industrial do ouro levou à criação da barragem de rejeitos B1, em fase de desativação desde 2008, e da barragem B2, atualmente em funcionamento. Esta última deve permanecer em atividade até 2036.
Moradores temem tragédia
A barragem B2, que tem 88 metros de altura, está na Categoria de Risco (CRI) baixo para desabamento, conforme a lista de classificação de barragens de mineração brasileira, da Agência Nacional de Mineração (ANM). Mas tanto os moradores da cidade, especialmente nas três principais comunidades rurais, quanto o Ministério Público estadual alertam para o risco de uma tragédia sem precedentes.
A Promotoria Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público da Bahia (MPBA) em Jacobina já identificou falhas na segurança da barragem. No dia 2 de dezembro do último ano, o desabamento de uma estrutura interna da barragem de minério de ouro pôs em alerta a Agência Nacional de Mineração e os promotores.
Segundo um documento da ANM ao qual a reportagem teve acesso, houve “ruptura parcial da pilha de rejeito ciclonado”, causada provavelmente “por fortes chuvas e problemas de drenagem interna dessa estrutura”, na barragem B2. Não houve vítimas, mas o material sólido soterrou um veículo da própria empresa.
No dia 4 de dezembro, a agência interditou e suspendeu de imediato o lançamento de rejeitos da B2. Para que a interdição fosse desfeita, a ANM recomendou que a JMC solucionasse os problemas apontados na inspeção realizada pelo Ministério Público da Bahia.
Caso se rompesse, a B2 provocaria a destruição nas vias de acesso às outras comunidades, deixando isolado o povoado.
O pavor do rompimentoda barragem de minério de ouro coloca em suspenso as centenas de residentes de Itapicuru e Jabuticaba. Além deles, moradores de bairros da zona urbana de Jacobina temem um desastre, uma vez que estariam na rota da lama oriunda da barragem.
A cidade de Jacobina tem uma população estimada em 80.635 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É como se o município estivesse fadado ao ouro porque a economia gira em torno da exploração do minério. No último ano, a produção mineral comercializada do município de Jacobina, foi de R$134 milhões.
“O medo é, como teve em Brumadinho, em Mariana, acontecer um rompimento e ceifar centenas de vidas”, diz Bonifácio.
Simulação de rompimento de barragem de ouro
Na manhã de 22 de fevereiro de 2019, após pressão da comunidade e de movimentos sociais, com apoio do Ministério Público e de autoridades baianas, a JMC fez uma simulação de rompimento da barragem, com a parceria entre a Defesa Civil de Jacobina e a do estado para “preparar os moradores e equipes de atendimento para emergências, com base na cultura de prevenção a acidentes da empresa”.
Cerca de 400 moradores das comunidades de Canavieiras, Jabuticaba e Pontilhão – outra que estaria na rota da lama – participaram do simulado inédito. Todos os moradores foram identificados pela empresa; dessa forma, há maior chance de atendimento em uma possível pós-tragédia.
Mineração de ouro na Bahia
A JMC pretende ampliar a produção de ouro em até 31% até 2023. Em 2019, a companhia produziu 159,4 mil onças – 4,5 toneladas – segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE). Atualmente, a JMC emprega cerca de 1.400 colaboradores diretos e 700 indiretos, conforme informações divulgadas pela SDE, em abril de 2020.
A Bahia possui 34 barragens de rejeitos de mineração registradas. “A Bahia é o quarto estado em importância de mineração no Brasil, atrás de Minas Gerais, Pará e Rio de Janeiro, porém, de acordo com a Agência Nacional de Mineração, o órgão só conta com um veículo para fazer a atividade de campo na Bahia toda, para a fiscalização”, afirma o promotor Pablo Almeida.
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